terça-feira, 21 de agosto de 2007

Hotel Ruanda (2004)


Mortes de inocentes podem ocorrer! Os países ricos não podem virar as costas! Vozes ecoaram mundo afora e nada, absolutamente nada foi ouvido. Sim, a matança aconteceu. Os poderosos ignoraram. Sabem por quê? Simples: eles eram negros e pobres. O ano do horror foi 1994.
O filme é baseado em fatos reais e narra a barbárie travada pelos habitantes de Ruanda na África, entre as facções tutsis e hutus que disputavam o poder local. O genocídio ocorreu e as argumentações dos “grandes líderes” – Bush, Putin, Blair e Chirac – na época foram absurdas: disseram que não tinham informações precisas sobre o que estava acontecendo e não poderiam intervir. Mentiras deslavadas. Sabiam sim, tanto que retiraram seus diplomatas e ricos colaboradores que lá estavam. O mundo desprezou um conflito que matou algo em torno de um milhão de pessoas, isto em apenas três meses de guerra.
O inesquecível trabalho do diretor Terry George não apela para cenas de violência e tampouco para o jorrar de sangue na grande tela, como muitos gostam. Retrata os fatos sob o olhar do personagem Paul Rusesabagina, interpretado maravilhosamente pelo ator Don Cheadle (Crash – No Limite, de 2004). Ele é o gerente de um hotel luxuoso que abriga a elite e visitantes que vão a capital Kigali.
Quando eclode o embate entre as etnias, muitos buscam refúgio no hotel Milles Collines e, neste momento, Paul revela seu lado humanitário ao abrigar os indefesos, mesmo diante das ameaças que constantemente rodeiam o ambiente. A sua atitude – apesar do medo – salva pessoas e nos mostra um homem digno e verdadeiro, que em uma atmosfera apocalíptica foi capaz de enfrentar todas as hostilidades e sobreviver a tudo que viu e viveu.
Há uma cena que revela o quão estamos distantes da realidade do mundo dos explorados. Ocorre justamente quando o jornalista Jack Daglish (Joaquim Fênix) mostra imagens do massacre e fala que os telespectadores talvez iriam ver a matéria durante um jantar; alguns se sensibilizariam e depois de um breve comentário voltariam a comer tranquilamente. É verdade. Não sendo na nossa pele tudo pode acontecer. Cuidado! A violência pode estar bem mais perto do que você imagina. É preciso vender armas, munições, tanques e etc. É o pacto dos imperialistas e o morticínio dos miseráveis.
Imaginem: corpos aos montes; corpos roxos com a morte costurada em suas entranhas. Nauseante? Sim. Entretanto, é um fato, é real. Não se enganem, a guerra civil em Ruanda manchou a paisagem do continente africano. O drama mistura-se ao terror cotidiano vivido pelas duas tribos. Este sentimento foi fomentado pelos “donos do poder” acima nominados, que irresponsavelmente colocaram armas nas mãos de milícias tribais e que não tinham qualquer formação militar.
As atrocidades nazistas foram denunciadas de forma contundente pela mídia mundial e não deveria ser diferente. O poder econômico da comunidade judaica é fortíssimo e seus gritos foram ouvidos, embora um pouco tarde. Já os ruandeses não tiveram o mesmo tratamento, foram esquecidos e seus lamentos de horrores se perderam nas savanas da África. Muitos habitantes foram forçados ao exílio e, ainda hoje, vivem refugiados em outras paragens. A ex-colônia belga foi palco de uma carnificina que ficará para sempre em nossas memórias e tenho certeza: nas lembranças daqueles que assistirem a este filme, que é imperdível.

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